Eu olho pela janela aberta, e o vento me traz uma notícia: acaba de nascer um novo coração dentro de mim. Este é o segredo que eu não deveria contar para nenhum dos meus amores: tenho agora dois corações: Enquanto o segundo às vezes vira geleira, com o primeiro eu caço borboletas azuis. Com este eu sinto amor, com o outro — já nem sei. O primeiro é maior e não tem pressa: o segundo bate sessenta vezes por minuto. Um tem formato de mão, o outro parece carícia. Quando me apaixono com um deles, o outro fica de sentinela, polindo com certeza as razões que eu posso não perder. Se um deles segue cego uma paixão, o outro acende sempre uma lanterna de sonhos, e o conduz na escuridão.
Este, o meu segredo.
Que me liberta.
Este, o meu segredo.
Que me liberta.