14.2.10

Sou um Diogenes

Aquilo que planejamos não nos surpreende. O que é planejado nunca emociona, não tem encanto. Toda aventura tem que ser imprevisível. Se você não cair de vez no mundo, o mundo é que acaba caindo, desabando sobre você — e te esmaga sem dó. Se você não saltar profundo, não saberá o que é viver.

Este plano por onde escorrego da normalidade à loucura não tem fim — tem só delícias inclinadas. Pois o verdadeiro desapego é aquele que temos pelas coisas internas e pelas externas. O real desapego primeiro acontece por dentro da gente: vamos deixando de precisar daquilo que já estava no interior de nós mesmos. Porque desapegar-se só das coisas que estão fora é muito fácil.

Antigamente eu precisava de uma casa enorme para guardar tudo aquilo que imaginava necessitar. Depois, as coisas que supunha muito importantes para mim cabiam numa sala pequena. Mais tarde, essas coisas "extremamente importantes" passaram a caber num armário de tamanho médio no quarto do fundo. Bem depois, coloquei tudo aquilo que ainda considerava “muito importante” no porta-malas de um carro conversível preto — e saí pelo mundo. Andei, rodei, tomei sol, tomei chuva, tomei ar, vento, brisas, amei com a liberdade absoluta — e fui me despojando ainda mais. Agora, cheio de amor e pleno de vida, vejo que todas as coisas verdadeiramente importantes para mim, hoje, cabem dentro de uma calça jeans e de uma camiseta branca de algodão gostoso. Não preciso nem de sapatos!

Agora sou livre de verdade, porque agora só preciso de mim. Por enquanto.
Mas, assim como Diógenes, logo logo terei apenas um barril — e serei um vira-lata zen.



O esplendor sempre me acompanha em meus devaneios madrugantes: hoje nem vou dormir. E fico aqui pensando: claro que o que é planejado também pode emocionar — desde que o planejamento tenha sido feito com amor. Com amor e liberdade. Com amor, liberdade, criatividade, inteligência, gostosura e ousadia. Com o cérebro e o coração, juntos.