20.2.10

o céu que eu vejo

Temos que ler os sinais que a vida nos dá — e entendê-los.

Quando eu era pequeno brincávamos de ver nuvens de sorvete no céu do Paraná. Meus amiguinhos só viam bois, cavalos, carroças, coelhos, cabritos, mangueiras, copos de leite. Mas eu — nas mesmas nuvens — eu via elefantes enfeitados com safiras dançando sobre tamboretes de ouro em picadeiro de circo; via tigres de Bengala olhando de soslaio; via Napoleão Bonaparte empunhando sabres num cavalo branco enluarado; via uma mulher descalça, vestidinho de chita, belíssima, carregando um pote de água pura na cabeça; via um miúra com quatro banderillas espetadas no lombo ensangüentado; via a Vênus de Milo, nua, de ponta-cabeça; via Sócrates trepado discursando numa caixa de madeira no mercado de Atenas.
Eu via coisas que os outros não viam...
Até hoje eu olho ainda para o céu e vejo coisas que os outros não veem. Tão lindas, encantadas — maravilhas que nem conto!

Vocês não iriam mesmo acreditar.