Tinha know-how aquele homem primitivo que usou a roda recém-inventada para construir uma carroça, cuja utilidade principal era buscar carcaças de javali no mato ali pertinho, e trazer capim para alimentar o seu cavalo magro. Aquele novo meio de transporte fascinava todo mundo. Acabou chamando a atenção de uma moça que havia na sua aldeia, e que todo dia buscava água no riacho e trazia um pesado balde equilibrado na cabeça. Como tinha know-how, esse homem primitivo adaptou um suporte na carroça e passou gentilmente a transportar o balde da moça. Passou também a caçar menos na floresta, pois já não via mais sentido em buscar javalis. Passaram-se os dias e entre os dois nasceu um sentimento, até então sem nome, mas que hoje chamamos de amor. Conheceu a família da moça, passou a fazer carreto de graça para o sogro, buscar pedras para o muro, levar a sogra ao mercado da aldeia vizinha. Sua carroça era o maior sucesso...
E, como tinha know-how, marcou logo a data do casamento, aceitou os padrinhos escolhidos, gostou muito do terno feito com pele de cordeiro que uma tia da moça costurou, passou a sorrir por tudo e por nada, parecia um bobo encantado. E como tinha know-how, enfeitou a carroça, penteou a crina do cavalo, passou graxa de javali no eixo, arranjou uma rédea nova, e levou a família da moça à cerimônia do casamento. Assumiu compromissos, fez juramentos e promessas, abandonou os amigos, deixou definitivamente de caçar, jogou fora o arco e a flecha, botou fogo no tacape, constituiu família, teve dois ou três filhos, abriu uma loja de pedras polidas — e virou um homem sério. Ou seja, tinha know-how.
Entretanto, na mesma aldeia, havia um outro homem primitivo que também usou a roda recém-inventada para construir uma carroça. Mas uma carroça diferente, mais estável, menor, com assento para apenas duas pessoas, rodas mais largas, sem compartimento de cargas. Deu a essa carroça o nome de carruagem, colocou nela um cavalo negro chamado Estrela, e todas as tardes era visto em companhia de moças de cabelos longos, sorrindo por tudo e por nada, correndo para ver o pôr do sol, levantando poeira, alegre, encantado, feliz — e solteiro. Esse tinha savoir-faire.
E, como tinha know-how, marcou logo a data do casamento, aceitou os padrinhos escolhidos, gostou muito do terno feito com pele de cordeiro que uma tia da moça costurou, passou a sorrir por tudo e por nada, parecia um bobo encantado. E como tinha know-how, enfeitou a carroça, penteou a crina do cavalo, passou graxa de javali no eixo, arranjou uma rédea nova, e levou a família da moça à cerimônia do casamento. Assumiu compromissos, fez juramentos e promessas, abandonou os amigos, deixou definitivamente de caçar, jogou fora o arco e a flecha, botou fogo no tacape, constituiu família, teve dois ou três filhos, abriu uma loja de pedras polidas — e virou um homem sério. Ou seja, tinha know-how.
Entretanto, na mesma aldeia, havia um outro homem primitivo que também usou a roda recém-inventada para construir uma carroça. Mas uma carroça diferente, mais estável, menor, com assento para apenas duas pessoas, rodas mais largas, sem compartimento de cargas. Deu a essa carroça o nome de carruagem, colocou nela um cavalo negro chamado Estrela, e todas as tardes era visto em companhia de moças de cabelos longos, sorrindo por tudo e por nada, correndo para ver o pôr do sol, levantando poeira, alegre, encantado, feliz — e solteiro. Esse tinha savoir-faire.