Numa relação de amor profundo, a fidelidade tem que ser espontânea para ser maravilhosa. Quando isso acontece, mesmo que dure pouco, é uma delícia. Um êxtase. Porém, quando é preciso esforço para suportá-la, ela deixa de ser fidelidade — e se torna um martírio.
No fundo, a fidelidade sexual forçada é uma invenção maldita: ela só permite o lado pobre, trivial e minúsculo do amor. E a relação, é claro, perde a graça.
Eis algumas notícias de jornal:
Pedreiro esfaqueia namorada em Campinas.
Caipira mata esposa e a enterra no quintal.
Lindemberg assassina Eloá em Santo André.
Esposa impede marido de jantar com ex-namorada.
Jovem mata adolescente por suspeita de traição.
O crime passional é ridículo, antes de ser horroroso. Quem tem necessidade de controlar as emoções do outro é um doente sem cura. Inimigo visceral da Liberdade, merece pena de esquecimento. Ou de morte.
Estou escrevendo um novo livro sobre o Amor, a Loucura e a Liberdade, cujo título é Teoria do Arrependimento. Hoje, um dos personagens, Paritosh, diz a outro:
Esses amadores não são escravos do ciumento, mas sim da importância excessiva que atribuem ao ciumento. Fosse reduzido à sua condição de nulidade, o ciumento seria tão somente desprezível, inclusive aos olhos do objeto do seu crime — ou seja, o coitado que se submete mansamente aos caprichos do mais forte.