29.9.08

Nossos bens e nossos males

Nossos bens nos sufocam, e nossos males, também. Não nos deixam respirar livremente. Por isso temos que nos desfazer deles, de forma racional e criteriosa, pouco a pouco, todo dia. Dos males, já me desfiz, quase todos. Mas, se eu, no improvável dia em que morrer — daqui uns quatrocentos anos — tiver mais do que dez dólares no banco, algo terá saído errado com a minha história. Acumular dinheiro e gozar a vida são coisas mutuamente excludentes. Aliás, o grande Walt Whitman já dizia que não precisamos de um centavo sequer no bolso para comprar tudo aquilo que a vida tem de melhor.


Mas não me interpretem mal, meus amigos: tudo isso é poesia... O poeta, por definição, tem que ser louco e desprendido. É da sua natureza ser assim. Porém, em circunstâncias idênticas, com as mesmas condições físicas, com o mesmo caráter e a mesma visão intelectual do mundo, com a mesma vida longa e o mesmo tempo livre — e ainda mais nesta sociedade em que vivemos — eu acho muito melhor ser independente do que não. E isso inclui, é claro, uma certa independência financeira.