1.9.08

jogo

Todo dia eu olho nos teus olhos, vejo o amor que eles querem, sinto que é possível, e nele me transformo. Eu não jogo com você: o único jogo que me agrada é aquele que acontece quando trago para a tela do computador uma poesia inacabada, e fico jogando com as palavras e o sentido que elas têm. Passo a noite toda mexendo nelas, jogando com elas, acariciando-as, lambendo-lhes as partes íntimas e doces, amando-as profundamente. Mudo-lhes o seu sentido, dou-lhes forma nova, pinto-as de azul e levo-as pra cama. Enriqueço rimas em benefício do amor, coloco consoantes de apoio, quebro a estrutura da frase, abandono as regras, crio outras, invento, escrevo, sinto e danço.

Se por acaso vou ganhando, quero novamente ganhar mais. E se perco, a cada jogada que faço cresce o meu entusiasmo para jogar de novo, recuperar aquilo que possamos ter perdido.

Passo a noite quase toda jogando dessa forma, em todos os sentidos. Porém, antes que a Aurora chegue, deliciosamente, trazida por você, começo a brilhar — metáfora da luz que me anuncia.

E de manhã, exaustos de tanto amor, nós dois nos vencemos:
O poema ganhou de mim, e eu com certeza o venci.