2.7.08

fotografias

Eu fotografo o pôr do sol trezentas e sessenta vezes, e ninguém diz que estou "explorando o crepúsculo". Eu fotografo uma natureza viva ou morta centenas de vezes; eu fotografo um copo de leite, uma rosa branca, um girassol; eu fotografo uma criança, um leopardo, uma curva de Niemeyer, uma velha desdentada, uma Ferrari amarela, uma vaca holandesa, um cavalo — quantas vezes quiser — e ninguém me critica por isso. Ninguém me diz "você está explorando o sorriso da criança", nem me diz que estou "explorando o cavalo negro". Porém, se eu fotografar um corpo de mulher nua — ainda que a foto seja belíssima — muitas pessoas provavelmente dirão que estou "explorando o sexo frágil", ou coisa parecida.

Ora, essa crítica não tem fundamento. É tão absurda, que me sinto no coração da Idade Média...

E fico me perguntando: Por que é que certas pessoas podem ver beleza no corpo nu de um leopardo mas não conseguem ver beleza no corpo nu de uma mulher? Por que um pescoço pode ser mostrado livremente, mas um seio é um pecado? Por que tanta hipocrisia? Afinal, onde reside o belo? Onde e quando a beleza pura não será ameaçada? Quanto moralismo essa crítica insensata não contém? Quem decide o que pode ser visto ou mostrado? Onde está a liberdade de escolha e de expressão?

Será que deverei simplesmente destruir minha Nikon? Ou terei que chamar Platão para falar por mim?