Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Essa frase, dita pela Raposa no livro O Pequeno Príncipe, é muito citada. Mas o verbo cativar tem pelo menos dois sentidos. E o autor, Saint-Exupéry, não terá talvez pensado no primeiro deles — que é escravizar, prender?
Por favor, cativa-me! — disse a Raposa.
Bem que eu gostaria — responde o pequeno príncipe — mas não tenho tempo. Tenho muitos amores a descobrir e vários mundos a conhecer. (*)
"O Pequeno Príncipe" parece uma obra simples, mas não é. Aliás, é profunda e contém a filosofia de Saint-Exupéry. Seus personagens são parabólicos: o rei, o geômetra, o contador, a raposa, a rosa, o adulto solitário e a serpente, entre outros. O pequeno príncipe era sozinho num planeta pequenino que tinha três vulcões: dois ativos e um extinto. Tinha também uma flor, belíssima e orgulhosíssima. E foi o orgulho exagerado da rosa que desestabilizou aquele mundo do pequeno príncipe e o fez empreender a viagem que o trouxe à Terra, onde encontrou personagens fantásticos a partir dos quais descobriu o segredo do que é realmente importante na vida. É uma obra que nos mostra uma radical mudança de valores, que ensina como às vezes erramos na avaliação das coisas e das pessoas que nos cercam — e no quanto esses julgamentos são questionáveis. Nós nos preocupamos quase sempre com banalidades, nos tornamos adultos muito cedo e rapidamente nos esquecemos da criança que somos.
(*) Fosse eu a Raposa, teria dito: Liberta-me!