25.9.03

Henry Miller

Agora vou contar o que me disse Eduardo Suplicy anteontem ao falarmos sobre maio de 1968: "— Seja realista, Edson: peça o impossível..."

Entreguei ao senador o esboço de um Projeto de Lei a ser apresentado urgentemente.


Minha idéia básica é que todo produto comercializado no Brasil deverá ter em sua embalagem espaço destinado a mensagens culturais. Uma frase, um conceito, o significado de um termo, fatos históricos, noções de higiene e saúde, reprodução de quadros, a tabuada do sete, resumos de biografias, pedaços de romances, poesias e juros compostos. Informações educativas em todos os produtos: de rótulos de cerveja a caixas de sabão; de bulas de remédio a réguas e canetas; de frascos de xampu a sacolas de mercado; de embalagens de sorvete a saquinhos de pipoca; de pacotes de café a bilhetes do metrô. Cultura, cultura, cultura! Inclusive nos comerciais de tv, rádio e jornal. Talvez até mesmo nas cédulas de real. Com isso, depois de alguns anos, o nível de cultura média do povo brasileiro estará certamente mais alto.

A esquerda vai dizer que este é um projeto fascista, a direita vai reagir babando de raiva, empresários vão reclamar, agências de publicidade farão beicinho — mas o resultado a longo prazo será sociologicamente positivo e historicamente marcante.

Suplicy ficou entusiasmado com a idéia. Dei-lhe um exemplar do "Manual da Separação" e pedi-lhe que lesse a página 5, em voz alta, ao lado do seu grande amor. Leu na hora e fez questão do autógrafo. Agradeceu sorrindo, mandou chamar o motorista e se foi.

Fiquei então sozinho, pensando. E lendo Henry Miller.